Homilia no IV Domingo do Advento

Queridos irmãos e irmãs aqui presentes o nosso Santuário, também uma menção aos nossos acólitos e coroinhas, neste ano com tantos impedimentos no serviço do altar, mas hoje queremos celebrar uma grande ação de graças pelo serviço desempenhado por vocês, e para que esse tempo seja inclusive passado por todos nós como um tempo com muitas lições, e aprendamos a arte de servir melhor a Deus. Uma saudação também muito fraterna a você que nos acompanha por meio desta transmissão, pois é assim que neste tempo que o Senhor possibilita que a palavra chega no seu lar junto à sua família.

A liturgia deste quarto domingo do advento apresenta-nos a grande figura de Maria Santíssima. Reflitamos um pouco sobre aquela que foi escolhida para ser a mãe do Salvador, como uma nova arca que agora não contém mais a lei antiga, mas que contém a lei em plenitude, o próprio Cristo.

            Nós ouvimos na primeira leitura de hoje, do livro de Samuel, o momento em que Davi toma consciência de que estava num grande palácio, e na verdade a arca da aliança não estava bem guardada, estava numa tenda qualquer. Então é suscitado no coração do Rei Davi a construção de um templo para a arca, que continha os dez mandamentos, dados a Moisés no monte Sinai. A arca para o povo hebreu tinha um simbolismo muito grande, e eles carregavam consigo essa arca porque era o símbolo da aliança com Deus.

            O Senhor suscita também a Davi a condição de reconhecer que, não será ele o construtor do templo, mas terá  alguém que poderá fazê-lo, suscitou então Salomão, aquele que sucedeu Davi, e ele construiu o templo de Jerusalém com um desses objetivos: guardar a arca da aliança.

Nesta liturgia nós lembramos Maria, e falamos que ela no novo testamento é nova arca da aliança, porque no seu coração o Senhor possibilitou inclusive a condição de estar entre nós. Por isso nós nos referimos a Maria neste dia,  e no evangelho que acabamos de ouvir nos foi apresentado o momento da anunciação do anjo àquela que recebeu o Salvador no seu ventre.

            Seguindo uma catequese do Papa emérito Bento XVI, já há algum tempo para a Igreja, eu gostaria que nós pudéssemos guardar três frases que o santo evangelista nos apresenta neste dia. Teríamos outras possibilidades de reflexão, mas hoje vamos guardar duas frases ditas pelo anjo a Maria e uma pronunciada por ela.

A primeira frase, quando o anjo aparece diante da jovenzinha de Nazaré, escolhida para ser a mãe do Senhor, foi esta: alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo! Não pode passar despercebida a saudação do anjo, é uma saudação bem diferente do que os judeus estavam acostumados. Depois o próprio Cristo quando aparece junto dos seus, ressuscitado, também utiliza uma expressão muito própria para os judeus, quando há um encontro a expressão utilizada é Shalom aleichem (a paz esteja contigo). Neste momento o anjo utiliza outro termo: alegra-te (kaire) que é uma expressão da língua grega para significar júbilo, alegria, e esta é a primeira palavra que nós encontramos e poderíamos dizer: uma palavra nova no novo testamento. É a grande novidade do anúncio da boa notícia, do santo evangelho do Senhor, a alegria.

            É claro que antes Lucas fala também e anuncia o nascimento de João Batista, mas agora o que Lucas faz? Ele faz questão de colocar no seu evangelho essa expressão da língua grega, pois quem sabe depois o povo grego, ao ler o evangelho, também se sentiriam incluídos nessa boa notícia. Imaginem por exemplo quando o povo grego, que adoravam tantos deuses, se depara com um texto do novo testamento, o evangelho, e ali encontram uma expressão da sua língua, que significa júbilo, alegria, eles sentiram-se com certeza incluídos, e neste sentido, o povo grego também é expressão da diversidade dos povos que precisam acolher o salvador.

            Nós, hoje somos aqueles a quem a palavra está sendo dirigida, e somos convidados também, a experimentar esta alegria que Maria experimentou da boca do Anjo, quando o Anjo disse: alegra-te. Maria era cheia de graça, sem pecado, o Senhor está dizendo para nós, mesmo que nós sejamos maculados pelo pecado, nós também podemos buscar a graça, nós também podemos ter a certeza que o Senhor está conosco, mesmo nesse tempo tão difícil. É agora que precisamos reconhecer a presença do Senhor.

            Neste sentido, este alegra-te ó cheia de graça, lembra-nos também uma profecia, não está como texto de hoje, mas a profecia de Sofonias já falava no mesmo sentido e no mesmo júbilo, dizendo assim: alegra-te Filha de Sião. A filha de Sião é Maria Santíssima, nós até ouviremos hoje no prefácio da missa: do seio virginal da Filha de Sião veio o Salvador. Sofonias já haveria indicado que isto aconteceria, e agora acontece com Maria recebendo a boa notícia, que seria a mãe do Salvador.

            Uma segunda frase que o anjo disse a Maria, e ele está dizendo também a nós, Igreja, pois Maria é expressão da Igreja que precisa acolher o salvador: não tenhas medo, Maria! Pois encontraste graça diante de Deus! O Senhor está dizendo para nós, sussurrando em nossos ouvidos: não tenhais medo! O tempo que estamos vivendo não pode causar a nós cristãos medo de enfrentarmos essa situação, e jamais a pandemia do tempo presente pode impedir que nós celebremos o natal do Senhor, com alegria própria do nascimento, mas também com esse sentimento da presença de Deus. Não tenhais medo! O Senhor está sempre conosco!

Finalmente uma frase que brotou do coração de Maria Santíssima. Diante deste acontecimento tão misterioso, eis que Nossa Senhora se coloca diante do anjo e diz: eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra! Poderíamos dizer: segundo a tua vontade, pois Maria inaugura uma parte importante do Pai nosso que Jesus depois ensinaria, seja feita a tua vontade.  Maria está dizendo: eis  aqui a serva do Senhor, como aquela que em primeiro lugar serviu ao Senhor e depois inclusive deste anúncio vai ao encontro de sua prima Isabel, na Alegria do serviço, na alegria de estar à disposição de Deus.

Que Nossa Senhora nos ajude, e que esses últimos dias do Natal inspirem nossos corações para que assim estejamos preparados para acolher Jesus, o nosso salvador.

Escrito por: Pe. Maurício