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Mc 1,14-20

14Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galiléia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia:

15"Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho."

16Passando ao longo do mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.

17Jesus disse-lhes: "Vinde após mim; eu vos farei pescadores de homens."

18Eles, no mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no.

19Uns poucos passos mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam numa barca, consertando as redes. E chamou-os logo.

20Eles deixaram na barca seu pai Zebedeu com os empregados e o seguiram.


Homilia no III Domingo do Tempo Comum

Queridos irmãos e irmãs, aqui presentes e também todos que nos acompanham por meio desta transmissão. Chegamos ao terceiro domingo, estamos no início do tempo comum e seguindo o que a Igreja nos pede nesse dia, dando um destaque à palavra de Deus.

Claro que todas as vezes que celebramos a Santa Missa nos envolvemos no mistério da proclamação dos textos bíblicos inspirados por Deus. Cada domingo adquire uma especial menção quando partimos do evangelho como uma boa notícia. Estamos nesse ano no evangelho de Marcos, o início deste evangelho, assim como também outros Evangelistas, fala de Jesus que anuncia um tempo novo. O tempo do Senhor chegou, e este tempo novo se inaugura com um reino anunciado por Jesus, inaugurado por Ele e se encontra na sua plenitude.

Interessante olhar o evangelho nesta dinâmica inaugurada por Cristo e o modo como Ele compreende o tempo. Para os gregos existiam duas formas de se falar a respeito do tempo, falava-se do Cronos, aquilo que pode ser medido, as horas, os segundos, os meses, e existia também a forma de falar de um tempo que não pertence a nós, o Kairós, o tempo do Senhor. Jesus inaugura um tempo que é Dele, Ele é o Senhor do tempo, o Alfa e Ômega, princípio e fim e, hoje, no evangelho Ele fala que este tempo está sendo inaugurado, na sua plenitude, quando Jesus passa por este mundo.

            Então, toda condição temporal que somos convidados a viver e mesmo nas situações mais adversas, como neste tempo de pandemia, o tempo cronológico é transformado pelo tempo do Senhor.

O tempo kairológico não é só uma condição de futuro, é na verdade uma condição de presente, pois o Cristo, cada vez que celebramos a Eucaristia, se torna presente no meio de nós. E é este reino inaugurado por Jesus Cristo, o tempo que chegou, o tempo Kairológico.

            Por isso, a segunda parte do evangelho de hoje fala do chamamento dos primeiros discípulos. Jesus vê e chama, e Jesus tem pressa em chamar outros. Ele, na versão de Marcos, nem olha para trás para saber se os primeiros dois estavam seguindo, continua caminhando e chamando. Somos muitos discípulos do Senhor, Ele também está me chamando para um processo de conversão, para uma mudança de vida.

            Como é bom termos um precioso dom, a vida que Deus nos concede. Neste tempo de pandemia com um cuidado maior por este dom, o dom da vida, mas é muito bom percebermos que a nossa vida precisa ser transformada. Uma vida que não está em transformação é uma vida perdida. A nossa vida é transformada à medida que convertemos o coração.

Por isso, Jesus anuncia no evangelho: convertei-vos e crede no evangelho, crede nessa boa notícia, e assim Jesus nos convida a essa transformação. A imagem da primeira leitura de hoje foi uma verdadeira transformação que aconteceu na cidade de Nínive. O profeta Jonas narra o momento em que no apelo de Deus, ouviu a palavra e se colocou a caminho dessa cidade, a qual precisava de três dias para ser percorrida, para passar de ponta-a-ponta. Mas, no primeiro dia que Jonas se coloca à disposição de Deus já há uma transformação. Impressionante o que Deus faz não só em um dia, Ele faz conosco às vezes em segundos, basta que tenhamos um coração convertido, um coração que mudou não só de direção, mas o sentido.

Na expressão grega há uma única expressão para dizer e falar dessa transformação ou conversão, a expressão é: “metanóia”. Quando traduzimos para o português dizemos que é uma “conversão”, mas não expressa bem o que é, porque parece que conversão é só mudar de direção e não é isso.  Conversão é uma mudança interior e uma transformação maior em direção ao único Deus, que nos dá sentido. E essa transformação que foi vivida na cidade de Nínive foi tão grande que o rei e todos os súditos mudaram de direção, e assim Deus desiste do mal que queria fazer contra Nínive. Essa cidade é a expressão daqueles que acolheram a palavra de Deus no seu tempo.

            Mas, precisamos acolher essa palavra no nosso tempo presente, com esse momento que vivemos.  Não é possível negarmos que estamos vivendo uma situação de fragilidade humana e precisamos acolher a palavra neste tempo ou poderíamos dizer nesse momento presente. E se acolhemos a palavra é porque sabemos que o tempo está abreviado, na Carta de São Paulo aos Coríntios de hoje, encontramos a afirmação de que o tempo é abreviado, quem está casado devia viver como se não tivesse casado.

É claro que São Paulo não está dizendo que o casamento não tem o seu valor, mas sabemos que somos todos passageiros por este mundo. Quem está alegre viva como se não estivesse alegre e quem está triste como se não estivesse triste, aqueles que têm fartura vivam como se não tivessem nada.

            Então, o tempo é breve, talvez para alguns 80, 90 quem sabe 100 anos, mas é um tempo breve. A nossa vida é muito mais do que a condição cronológica de contarmos tudo o que vivemos no mundo, a nossa vida precisa também ser vivida por uma condição única, num tempo que é do Senhor.

Quando ouvimos um pouco e ontem já fiz esta menção, aquele diálogo que existe no livro de Alice no País das Maravilhas, entre Alice e o Coelho, entendemos o que é isso que chamamos de tempo eterno. Há um diálogo muito bonito que diz o seguinte, quando Alice se volta para o coelho e diz: Quanto tempo dura o eterno? Pergunte-lhes: É possível medir o eterno? E o coelho responde: às vezes um segundo!

            E é assim, o eterno já acontece conosco às vezes em milésimos de segundos, o eterno que já acontece em nós é a grande expressão de Deus que está conosco. Por isso, podemos eternizar este momento, em um aniversário eternizamos aquele momento, um dia de sofrimento eternizamos porque lembramos com gratidão o momento que transformamos a vida.

             Meus irmãos e minhas irmãs, deixemo-nos transformar pela palavra, essa palavra que é viva e eficaz, na direção para Deus, para acolhermos Deus na nossa vida, que jamais passará, que está em Jesus Cristo e na plenitude dos tempos, Naquele que viveu a história, que não só mudou a história, no meio ou dividiu antes e depois, mas aquele que dá sentido para toda a história.

Escrito por: Pe. Maurício