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Mc 6, 30-34

30 Os apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-lhe tudo o que haviam feito e ensinado.

31Ele disse-lhes: Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que iam e vinham e nem tinham tempo para comer.

32Partiram na barca para um lugar solitário, à parte.

33Mas viram-nos partir. Por isso, muitos deles perceberam para onde iam, e de todas as cidades acorreram a pé para o lugar aonde se dirigiam, e chegaram primeiro que eles.

34Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque era como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.


Homilia no XVI Domingo do Tempo Comum

HOMILIA NO XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

            Queridos irmãos e irmãs aqui presentes no nosso Santuário, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, e também todos aqueles que nos acompanham por meio da transmissão.

            Estamos no XVI domingo do tempo comum e a liturgia da palavra deste domingo nos faz lembrar dois momentos específicos em que também celebramos, diante da figura tão importante do Cristo, o Bom Pastor. Lembra-nos o IV domingo da Páscoa, quando estamos diante daquele mistério celebrado do Cristo Vivo e ressuscitado. O Senhor, todos os anos neste dia, revela-se como o Bom Pastor, aquele que dá a vida por suas ovelhas. Ainda há um momento em que, a cada 3 anos, pois seguimos o ano A, B e C, também somos lembrados da mesma figuração do Cristo Bom Pastor. Refiro-me a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus no ano C, que será no próximo ano, quando se apresenta diante de nós esta imagem tão preciosa.

            Inclusive, dando um “spoiler”, daqui a pouco veremos, se Deus nos permitir, tudo o que foi pensado para o grande mosaico que será feito nesse presbitério, que está ligado à liturgia do dia do Sagrado Coração de Jesus segundo o ano C. Portanto, já é possível imaginar algumas ovelhas, a imagem do pastor, quem sabe alguns riachos, e as várias figurações da cidade grande, do campo, no encontro com o Cristo Bom Pastor.

            Assim, sigamos agora a liturgia da palavra revelada especialmente pelo evangelho segundo Marcos. Lembremo-nos, São Marcos não é o evangelista que revela o Cristo como o Bom Pastor propriamente dito, encontramos essa auto revelação no Evangelho de São João. Mas hoje, neste evangelho, Jesus se utiliza dessa imagem e segundo São Marcos, Jesus se volta para uma multidão e diz, tendo compaixão, que eram como ovelhas sem pastor.

Para entendermos a dinâmica vivida pelo Senhor, também precisamos compreender que o evangelho está situado em um momento em que os discípulos voltam da missão. Semana passada, XV domingo do tempo comum, a imagem era bastante missionária da Igreja, os apóstolos sendo enviados, dois a dois, pelo mundo. Eis que esses mesmos apóstolos enviados pelo mundo, voltam para Jesus e contam tudo o que tinham feito, todos os acontecimentos que estavam acompanhando ou acompanharam, melhor dizendo, a missão.

            E, Jesus diz o seguinte para esses apóstolos: vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco, pois cada trabalhador merece o seu descanso, e Jesus está preocupado, de alguma forma, com os seus apóstolos enviados para o mundo. Jesus os chama e diz que é preciso se retirar, ir para um lugar distante para descansar. Havia tanta gente ao redor dos apóstolos, pelos sinais que tinham realizado, que eles não tinham tempo nem de comer, diz o evangelista. Então foram sozinhos, os apóstolos, de barco, para um lugar deserto e afastado, e tomaram o famoso mar da Galileia, um grande lago, onde vários acontecimentos bíblicos acontecem.

            Durante essa travessia, é bom imaginarmos os próprios discípulos descansando nestas águas, quem sabe até na leveza do remo, não estavam com pressa de chegar ao lugar deserto e, por isso, aqueles que viram os apóstolos partirem com Jesus, saíram das suas cidades, foram correndo a pé e chegaram antes. Como isso é possível? Estamos falando de um lago, é possível contorná-lo e também atravessá-lo de barco. Talvez seja uma travessia muito mais rápida, realmente, mas é possível contorná-lo, por isso que essas multidões foram, correram e chegaram antes dos apóstolos. Quando eles chegaram e desembarcaram naquele lugar retirado, eis que Jesus vê uma grande multidão, e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Aparece então esta imagem, segundo São Marcos, do Cristo que tem compaixão da multidão.

            É interessante ficarmos um pouco mais com essa imagem, para imaginarmos o seguinte: aos apóstolos foi possível o tempo de descanso, pois estavam fatigados do trabalho, mas Jesus nunca se cansa de nós, nunca se cansa dessa multidão, sempre está esperando as ovelhas perdidas, e quem sabe, aquele momento em que passa a ensinar muitas coisas. 

Neste sentido, entendamos que a imagem do Cristo como o Bom Pastor já foi preparada no Antigo Testamento. O profeta Jeremias que ouvimos hoje na primeira leitura, falava do pastoreio exercido pelos reis. Se existia um rei bom, infelizmente também havia um rei que não governava bem, e Jeremias diz: é possível sempre estarmos a aguardar por um verdadeiro pastoreio. Deus há de suscitar um verdadeiro pastor, mas antes, ai dos pastores que se deixam perder e dispersam o seu rebanho, ai daqueles que governam e não fazem bem ao seu rebanho.

Surgirá um pastor, esse virá da descendência de Davi, este reinará, este fará valer a justiça, saberá realmente cuidar do seu rebanho. É a imagem prefigurativa do Cristo, o Bom Pastor, essa imagem tão linda que cantamos hoje, no salmo 22, talvez um dos salmos mais conhecidos.  Eis a fonte da verdadeira felicidade, cantamos e até almejamos estar sempre na companhia daquele que cuida sempre de nós. Quem sabe, somos suscitados hoje a também cuidarmos daqueles que nos foram confiados.

Essa também é uma imagem da liturgia, porque de alguma forma, se não exercemos agora, exerceremos no futuro o pastoreio e o cuidado para com o outro. Quando para muitas famílias é dada a possibilidade de vidas geradas é um pastoreio a ser bem exercido, um pai e uma mãe de família exerce um pastoreio para com seus filhos, e até quem sabe dos próprios filhos depois para com os pais.

Que linda é a imagem quando conseguimos ver os filhos cuidando dos pais na velhice. É também um pastoreio, um cuidado. Logo percebemos que esse cuidado precisa ser exercido por nós: quando o esposo cuida bem da sua esposa é um pastoreio, da mesma forma a esposa cuidando bem do seu esposo. Quando exercemos bem aquela tarefa de um trabalho honesto, digno e quem sabe existem pessoas de quem precisamos cuidar, ali também há um pastoreio. A nós é dada essa condição de cuidar, sempre inspirados por Cristo, o mesmo Cristo que corre ao encontro das suas ovelhas perdidas. Por isso de alguma forma somos pastores, mas somos ovelhas, pois estamos a caminho da salvação, desde aqueles que nos governam com autoridade, pensemos também no papa, ele também se torna ovelha no rebanho de Cristo.

            Precisamos acolher o Cristo como Bom Pastor, como aquele que, diz a Carta aos Efésios, corre ao encontro daqueles que se perderam. Em outras palavras: vós que outrora estáveis longe, vos tornastes próximos pelo sangue de Cristo. Aquele que doou o seu sangue pela humanidade acolhe a todos, e se há muitos dispersos pelo mundo, há muitos também que precisam escutar a voz do verdadeiro pastor.

            É isso que precisamos fazer, abrir nossos ouvidos para ouvir a voz do pastor, e embora nos percamos, embora muitas vezes nas tribulações da vida procuramos outros caminhos, o Senhor está sempre se compadecendo e sempre está a nos esperar.

Outra forma de rezarmos hoje é para que tenhamos sinais de verdadeiros pastoreios neste mundo, no papa, bispos, nos padres, pais e mães de família, naqueles que nos governam. Se todos, inspirados com Cristo o bom pastor, procuram exercer esse pastoreio, com certeza, são sinais da presença de Cristo.

Deixemo-nos conduzir sempre, por Cristo o Bom Pastor. E esta é uma grande certeza, o Bom Pastor sempre cuida de nós. Se às vezes temos dificuldade de sermos cuidados pelos outros, tenhamos a certeza maior, Cristo nunca nos abandona, sempre está nos cuidando.

Se a nós é dado o pastoreio, exerçamos bem, mas, se algum momento somos ovelhas que precisam de cuidado, deixemo-nos cuidar. Talvez seja o grande desafio na história humana, quando precisamos ser cuidados pelo outro, numa enfermidade, numa doença, onde não podemos fazer e precisamos confiar em alguém que, faça também por nós. Está é também é uma forma de nos lembrar de que sempre somos cuidados por Deus, ele nunca nos abandona.

Que o Cristo, o Bom Pastor, acolha-nos hoje, e acolha inclusive, a nossa sede, a nossa fome de Justiça, de paz, de diálogo, e principalmente, às tantas condições do nosso tempo presente que necessitam da presença Dele na vida e na história humana.

 

Escrito por: Pe. Maurício