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HOMILIA NO IV DOMINGO DA QUARESMA

HOMILIA NO IV DOMINGO DA QUARESMA

            Irmãos e irmãs presentes neste Santuário, saudação também àqueles que acompanham a transmissão desta santa missa. Celebramos hoje o domingo da alegria e é um momento sublime porque acabamos de escutar um dos belos trechos da sagrada escritura, tão original na versão de São Lucas.  É o único que narra esta parábola que, muitas vezes, ficou conhecida entre nós como a parábola do filho pródigo. Mas, gostaria que hoje pudéssemos adquirir uma nova ideia do que acabamos de ouvir, tendo presente que a centralidade está no pai, que é misericordioso.

            É evidente que as relações estabelecidas com o filho mais novo e com o filho mais velho também transparecem nesta parábola, mas o ponto central está em buscarmos entender o quanto o coração deste pai, que é o próprio Deus, é misericordioso e bondoso. É capaz sempre de perdoar e muito mais do que qualquer pai que esteja neste mundo, ou qualquer um de nós, o coração de Deus é imenso, nos convidando a, muitas vezes, sermos portadores do perdão.

            Neste sentido, centralizando a parábola no pai que é misericordioso, compreendemos o porquê de tornar este filho ou tomar este filho novamente, o mais novo, depois do momento em que ele havia escolhido outros caminhos com a liberdade, que é própria ao ser humano.

É impressionante percebermos que nesta parábola está a própria identidade do ser humano, porque também nos sentimos tão livres e esbanjamos tanto da liberdade que Deus nos dá. Porque não nos toma pela força, pelo contrário, somos livres na escolha por Deus, muitas vezes usamos não a liberdade verdadeira, torna-se até uma libertinagem, conforme ouvimos no momento em que este filho mais novo toma parte da sua herança e sai pelo mundo, gasta tudo que tem e perde tudo, inclusive a própria dignidade de vida.

            Como é triste percebermos que essa história continua a acontecer com tantos filhos desgarrados pelo mundo, vítimas da droga, da prostituição. Muitos deles não voltam mais para casa, são vitimados pela morte, mas feliz é aquele encontro que acontece quando o filho toma consciência. Esta é a nossa imagem do filho mais novo, imagem muito precisa do momento em que tomamos consciência que a liberdade não está sendo bem usada. E que em muitas ocasiões somos propensos a experimentar condições precárias do mundo.

Mas o filho toma consciência e a firme decisão de voltar para o pai. Nem quer ser tratado mais como filho, mas pelo menos quer adquirir um pouco mais de dignidade, pois nem a comida que era dada aos porcos ele podia se alimentar, tal é a situação deste filho, propenso às situações miseráveis do mundo.

E quando volta, qual é a surpresa desse filho mais novo? A surpresa maior é que quando ele chega o pai já não pergunta nada, simplesmente o abraça, cobre-o de beijos e faz com que este filho se sinta acolhido. É impressionante perceber, também nesta parábola, que estamos diante do ministério da reconciliação que a Igreja dá quando buscamos a confissão, pois estamos propensos às misérias do mundo e aos pecados. Mas quando voltamos para Deus, qual é a experiência que vivemos em uma confissão? De um abraço, de um carinho, de um momento em que Deus já nos quer chamar novamente de filhos, porque é esta condição que experimentamos em uma confissão. Ainda mais, pede aos empregados ou pede que alguém ajude, para que esse filho tome novamente a condição de dignidade: anel no dedo, sandálias nos pés e uma túnica branca.

            É assim que saímos no momento da confissão, com total dignidade, a mesma dignidade da veste branca do batismo. Por isso, o pai dá sempre esta possibilidade e, além do mais, oferece um banquete para o filho, para aquele que quer voltar ou se volta para o pai. O momento do banquete é quando se experimenta o convívio e a fraternidade, e a eucaristia é o grande banquete que experimentamos quando reconciliados, buscamos a Deus.

            Mas há a figura também do filho mais velho, que percebamos na parábola, também recebeu parte da sua herança, pois foi dividida de igual modo. Ele preferiu ficar junto do pai, não fez um caminho errado, porque muitas vezes fazemos a opção de permanecer junto à nossa fraternidade. O que está errado no coração deste filho mais velho é a inveja e a raiva que teve do irmão que voltou. Infelizmente esse é o retrato de pessoas que não conseguem se alegrar por um pecador que volta para Deus, há muita inveja, “mas como pode ser acolhido agora na comunidade”, “agora parece até santo, mas ninguém sabe o que fazia pelo mundo”. Infelizmente, a imagem do filho mais velho é a nossa imagem, quando já estamos tão próximos do pai, e somos raivosos, porque não sabemos compreender como é que Deus pode tratar o outro tão bem.

            É impressionante perceber o quanto esse filho mais velho se torna uma imagem nossa quando diz para o pai: este teu filho. Mas não é irmão dele? Perdeu o caráter de fraternidade e de irmandade, o que nunca deveríamos perder, irmandade, fraternidade, somos todos irmãos. O mais velho diz: esse teu filho que perdeu tudo, esbanjou o que lhe destes, agora volta e festeja. Pois, de fato, Deus faz uma grande festa quando um pecador se arrepende e volta para o coração do pai. E pai responde: filho, tu está sempre comigo, tudo que é meu é teu, é necessário festejar porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado. Que alegria acontece no seio familiar, já aqui na terra, de filhos que retornam e que não sofreram a consequência da morte, mas retornam para casa do pai. Imagine a alegria maior quando Deus também dá o perdão àquele que necessita.

            Por isso, não deixemos de buscar a reconciliação com Deus, não deixemos de fazer a experiência da misericórdia, senão não faremos uma boa Páscoa. A experiência do encontro com o Senhor que está nos esperando, não para nos julgar, porque confissão não é julgamento, mas o pai está pronto para nos abraçar, nos cobrir de beijos, nos dar um anel de dignidade, quem sabe uma sandália de proteção para este mundo, e ainda mais, uma veste nova, uma veste branca, uma veste com a qual somos revestidos no momento em que recebemos a absolvição dos nossos pecados. Não tenhamos receio de buscar a reconciliação com o pai, façamos a experiência do retorno, pois é assim que vivemos plenamente a páscoa do Senhor.

Escrito por: Pe. Maurício Gomes dos Anjos