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HOMILIA NO DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA (II DA PÁSCOA)

HOMILIA NO DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA (II DA PÁSCOA)

 

            Queridos irmãos e irmãs presentes neste Santuário, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, e também uma saudação muito fraterna a todos que acompanham a transmissão dessa Santa Missa do segundo domingo da páscoa, dentro deste período em que celebramos em 8 dias o sentido principal da nossa fé, a ressurreição de Cristo, e neste domingo que é conhecido atualmente como o domingo da Divina Misericórdia, um pedido foi feito à Santa Faustina pelo próprio Jesus misericordioso, para que pudesse espalhar pelo mundo a devoção à Divina Misericórdia. Este pedido foi atendido pelo Papa São João Paulo II, instituindo dentro da oitava da páscoa, o domingo da misericórdia divina.

            Os textos que acabamos de ouvir nos ajudam a compreender esta dimensão da misericórdia de Deus, especialmente quando lembramos um pouco mais o que cantávamos no Salmo 117: “Dai graças ao Senhor porque Ele é bom, eterna é a sua misericórdia”.  Recordando várias vezes da dimensão da misericórdia de Deus que está presente entre nós e em Jesus Cristo ressuscitado ainda mais, compreenderemos a misericórdia de Deus ao longo desse tempo Pascal, especialmente lendo os Atos dos Apóstolos, o que foi escrito neste livro por São Lucas como um relato fiel da vivência apostólica e dos sinais realizados por Jesus, durante o período em que Ele se manifestou ressuscitado aos seus discípulos.

            Hoje vamos nos deter um pouco mais na narrativa apresentada neste Santo evangelho de São João. Situadas em um espaço de oito dias, a primeira aparição do Senhor se dá no domingo da páscoa e a segunda no domingo posterior, de tal forma que cada aparição do Cristo é a prova concreta de que ele ressuscitou.

O sepulcro vazio é um sinal, mas as aparições de Cristo são sinais evidentes de que ele venceu a morte e ressuscitou. Neste contexto, no primeiro dia da semana, ou seja, no dia da Páscoa, 3 dias depois da morte do Senhor, os discípulos se encontravam reunidos com portas fechadas por medo dos judeus. A reunião nos lembra de quão precioso é estarmos unidos na fé, especialmente no domingo. Hoje somos nós os discípulos do Senhor, perseverantes em torno da mesa da palavra, da mesa eucarística, porque também queremos perceber os sinais, experimentar o Cristo vivo e ressuscitado.

            É dessa forma que se concretiza em cada celebração eucarística, em cada domingo celebrado, o evangelho que acabamos de ouvir. Pois o Senhor se coloca no meio dos seus discípulos, como já repetimos no início da celebração e fiz questão de fazer esta saudação litúrgica no início: “o Senhor esteja convosco”, e todos responderam: “Ele está no meio de nós”.

Eis uma verdade fundamental repetida ao longo da nossa liturgia, o Senhor está presente entre nós, como esteve presente junto àquela comunidade no primeiro dia da semana, no dia da páscoa do Senhor. Quando Jesus se coloca no meio daquela comunidade e também no nosso meio, Ele mesmo faz da saudação tão utilizada pelos judeus, uma maneira concreta dos discípulos compreenderem que Ele é a paz.

            Entre os judeus é comum esta saudação, na nossa tradução: a paz esteja convosco, é o shalon aleichem, que é um desejo de paz que o outro faz no momento da saudação, para que ambos experimentem a paz. É um desejo de paz naquele encontro fraterno entre eles, mas no caso de Jesus não é só um desejo de paz entre os discípulos, mas ele mesmo se coloca no meio deles dizendo: shalom aleichem, a paz esteja convosco, ou eu sou a paz e a paz está entre vocês. A paz devolve a esses discípulos a alegria, e quando Jesus está no meio deles e na primeira vez faz essa saudação, logo mostra que é Ele mesmo, mostra as mãos e o lado, e do sentimento de medo experimentado pelos discípulos, fechados com as portas, agora experimentam uma grande alegria porque viram o Senhor. Quantas vezes também temos esse sentimento de medo, quantas vezes precisamos experimentar na santa eucaristia o sentimento de alegria que só o Cristo ressuscitado nos devolve.

Logo em seguida o Senhor novamente repete a saudação, dada a importância que se tem, a Paz esteja convosco, e eis que aproveita a ocasião para mostrar aos discípulos alguns sinais e diz o seguinte: como o Pai me enviou também eu vos envio. Envia esses discípulos ao mundo, e quando diz isto há um sopro de vida sobre os discípulos, Jesus sopra sobre eles. Quando falamos de sopro de vida o que lembramos? Lembramos do livro do Gênesis, do relato da criação, quando Deus sopra a vida à humanidade, neste momento, a vida é resgatada, e a forma de resgate se dá pelo sacramento da reconciliação, por isso, os discípulos recebem a plenitude do Espírito Santo.

            O próprio Jesus diz: recebei o Espírito Santo! Para São João, Pentecostes já acontece no domingo de Páscoa, não era necessário reconstruir a comunidade dos discípulos do Senhor, como para Lucas para quem o Espírito Santo se manifestou 50 dias depois.

Para nós, cristãos atuais, os dois relatos são complementares, pois é importante percebermos a ação do espírito em nós desde o domingo da páscoa, ou até antes, na sexta-feira, porque o Senhor de forma antecipada na cruz entregou seu espírito. Depois do dia da Páscoa deu o espírito em plenitude àqueles discípulos e também recebemos essa plenitude, nos preparamos para que na festa de Pentecostes haja uma verdadeira festa dos carismas e da diversidade de ministérios.

Mas o Espírito Santo já está conosco: recebei o Espírito Santo, a quem perdoardes os pecados lhes serão perdoados, e quem não perdoardes lhes serão retidos, eis a instituição do sacramento da reconciliação e porque celebramos nesse domingo, o domingo da Divina Misericórdia, pois o Senhor quer que experimentemos em plenitude a sua misericórdia.

Acontece que naquele domingo de Páscoa alguém faltou na comunidade, um dos discípulos não estava presente. Era Tomé, um dos doze, mas não estava presente, quando os outros discípulos contaram: vimos o Senhor, Tomé não acreditou. Como muitas vezes acontece na história dos discípulos atuais, há outros discípulos que não estão presentes no domingo da páscoa, e depois contamos as maravilhas que o Senhor operou no domingo da páscoa, as maravilhas dos sinais de Deus, e contamos: olha, eu vi o Senhor, experimentei o Senhor ressuscitado, e como Tomé, muitos, quem sabe até nós, dizemos, olha, se eu não ver a marca dos pregos em suas mãos, se eu não colocar o dedo do seu lado, não vou acreditar, não acreditarei.

            Então passa o tempo e oito dias depois, exatamente no domingo como estamos situados, depois da páscoa o Senhor aparece. É necessário estar presente junto a uma comunidade todo domingo como dia do Senhor. Já falei isso semana passada, a missa dominical não é uma obrigação, é uma necessidade da alma.

Por isso, oito dias depois se encontravam os discípulos reunidos e agora Tomé estava junto. Novamente Jesus entra, e no meio deles a mesma saudação: a paz esteja convosco, e logo o Senhor vai até Tomé, porque faz isso conosco também, quando às vezes somos incrédulos, quando não somos fiéis, o Senhor vai lá e quer tocar o nosso coração, como está fazendo hoje na liturgia, diz o seguinte: estende a tua mão, coloca aqui do meu lado, não sejas incrédulo, mas seja fiel, Tomé. E o que ele responde? Uma profissão de fé, da incredulidade responde agora a busca por uma fidelidade: meu Senhor e meu Deus. E Jesus responde: você acreditou porque me viu. E proclama uma bem-aventurança: bem-aventurados os que creram sem terem visto.

Percebamos, somos estes bem-aventurados, porque cremos, não vimos o Senhor, mas o vemos pelos sinais sacramentais, temos consciência e precisamos adquirir ainda mais, uma maior consciência da plenitude do Senhor presente entre nós.

Estamos num contexto eucarístico que está muito presente em todo o tempo Pascal, e chega o momento que antecede a comunhão com o corpo do Senhor em que o próprio sacerdote se volta para a assembleia. Eu faço questão de fazer isso, voltar-me para a assembleia reunida, depois de um diálogo constante diante do Cristo ressuscitado que está presente agora na Santíssima Eucaristia, e diz: a paz do Senhor esteja convosco! Estendo as mãos, porque as nossas mãos também são portadoras de luz e de paz, e deveríamos abrir as nossas mãos para receber este dom da paz, mãos fechadas, braços cruzados não recebem a paz.

            Quando há essa saudação: “a paz do Senhor esteja sempre convosco”, na verdade, toda assembleia responde com consciência, não pode ser resposta automática, “o amor de Cristo nos uniu”. Que grandiosidade é essa resposta, o amor de Cristo que nos une, nada mais, o amor de Cristo que nos impele é o amor de Cristo que nos faz discípulos, diferentes e com pensamentos diferentes, mas é pelo amor de Cristo que estamos unidos. Por isso, neste momento que antecede a santa comunhão também experimentamos a paz, esta paz que é pedida desde o início da comunhão, desde o momento em que rezamos o Pai Nosso, até chegarmos a experimentar em plenitude este dom da Paz.

            Para concluir, não posso deixar de fazer duas referências ainda importantes. A primeira delas é tirada do livro do apocalipse de São João. Sejam curiosos na Bíblia, leiam o Apocalipse, mas não só como uma resposta aos tempos ou com quem sabe até para o final dos tempos. O livro do Apocalipse é um livro aberto para a liturgia que celebramos.

Que beleza termos escutado hoje, por exemplo, São João é o mesmo do Evangelho, dando testemunho de que foi levado para a ilha de Patmos, um lugar que ainda desejo conhecer, essa ilha onde a revelação do livro do apocalipse em grande parte foi feita a São João. Na ilha de Patmos ele dá o testemunho, no dia do Senhor foi arrebatado pelo espírito e ouviu uma voz como uma trombeta, e dessa voz dizia o seguinte: João, escreve tudo no livro, tudo que eu vou revelar.

Então ele vai e vê, e olha a visão que tem São João: então me voltei para ver quem estava falando e vi sete candelabros de ouro. Por isso, temos um cuidado com os candelabros, com a luz, no nosso tempo Pascal temos sete luzes acesas, com o círio pascal. No meio dos candelabros havia alguém como filho do homem, estava vestido com uma túnica comprida com faixa de ouro em volta do peito. É evidente que é o próprio Cristo, “ao vê-lo caí como morto aos seus pés”, é a expressão daquele que reconhece que está diante do ressuscitado, que está diante de Jesus. “Mas ele colocou sobre mim a sua mão direita”, por que Jesus faz isso conosco, coloca a mão direita, e diz: “não tenhas medo”, “eu sou o primeiro e último, aquele que vive,  estive morto mas agora  estou vivo, e vivo para sempre,  tenho a chave da morte, da região dos mortos, escreve pois o que vistes aquilo que está acontecendo e que vai acontecer”. Que revelação feita logo no início do Apocalipse de São João, do que de fato experimentamos a cada eucaristia, o Senhor que se revela plenamente, e se revela a nós tocando nosso coração por meio da palavra.

Se São João dá esse testemunho, também fala hoje no evangelho que acabamos de ouvir, que havia um dos discípulos que não estava presente na primeira aparição do Senhor, e na segunda foi tocado pelo Cristo. Tomé é chamado dídimo, quer dizer gêmeo, não se sabe se tinha um irmão gêmeo propriamente dito, mas o que se sabe numa interpretação muito fidedigna é que o evangelista ao escrever isso faz questão de mostrar que nos sintamos como irmão gêmeo de Tomé, ou seja, o Senhor quer tocar o nosso coração. Se somos muitas vezes incrédulos e nos falta a fidelidade, o Senhor quer nos devolver hoje a fé e quer nos pedir fidelidade, a partir de hoje, fidelidade ao Cristo vivo e ressuscitado.

Escrito por: Pe. Maurício Gomes dos Anjos