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Jo 14,23-29

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HOMILIA NO VI DOMINGO DO TEMPO PASCAL

HOMILIA NO VI DOMINGO DO TEMPO PASCAL

            Caríssimos irmãos e irmãs presentes neste Santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus e uma saudação muito fraterna também àqueles que acompanham a transmissão dessa santa missa.

            Chegamos ao sexto domingo da Páscoa. Gostaria de convidá-los a adentrarmos no mistério hoje proclamado nessas leituras, a partir do que repetimos pelo Salmo Responsorial. Geralmente nas liturgias dominicais há uma ligação muito íntima entre o evangelho e a primeira leitura e a ponte entre essas duas leituras se encontra pelo Salmo escolhido, como forma de estarmos diante de uma palavra proclamada e do que é central no domingo celebrado.

            Repetíamos hoje “que as nações vos glorifiquem, ó Senhor”! Há um desejo por parte do salmista e também fizemos esse pedido, que todas as nações encontrem a glorificação no Senhor. As glórias do Senhor, é o sentido do tempo Pascal e da missão dos cristãos em vista do que receberam pelo batismo, de levar essa boa notícia, o Evangelho a todas as nações, a todos os corações.

Nesse sentido já partimos para o evangelho como forma de compreender o que Jesus queria deixar para os discípulos como um testamento, o evangelho de hoje está num tom de despedida, estamos no capítulo 14 de São João, nos momentos que antecedem a paixão, morte e ressurreição de Cristo.

             E Jesus faz questão de dialogar profundamente com seus discípulos para que cada um não se sinta abandonado. Pelo contrário, depois de todo o mistério celebrado pelo Cristo em vista da salvação da humanidade, pudessem se sentir como parte integrante desta missão e, ainda mais, os discípulos pudessem experimentar que o Senhor não havia abandonado e deixado cada um a sós.

Nesse sentido, Jesus disse “eu irei para o Pai, mas vou enviar o defensor, o Espírito Santo, o paráclito, aquele que recordará tudo que eu vos disse”. É impressionante perceber que Jesus faz questão de dizer que não há um abandono deste mundo, pelo contrário, o mistério da Paixão do Senhor se consuma em vista de uma realidade da salvação, tão necessária para todos os povos. Somos portadores do Espírito Santo enquanto discípulos do Senhor, e precisamos tomar cada vez mais a consciência de que a missão de proclamar essa boa notícia cabe a todos os cristãos.

Já passou o tempo em que se acreditava que a Igreja estaria presente no mundo pela voz profética somente dos ministros ordenados ou dos religiosos. O Concílio Vaticano II insistiu tanto na tarefa de evangelização, porque cada um enquanto batizado tem essa tarefa, tem essa missão. Cada um é portador do Espírito Santo em plenitude desde o batismo, mas também no momento da Crisma somos confirmados na mesma fé.

            É preciso que nos empenhemos nessa obra de evangelização e é preciso que sejamos portadores desse Espírito Santo que habita em nós, porque o Senhor nos dá esta certeza.

E da mesma forma como o Espírito Santo conduziu os apóstolos no início do cristianismo, continua conduzindo a Igreja ao longo de dois milênios de história. No início da Igreja foi o Espírito Santo que conduziu Paulo e Barnabé para missão. Que cada um possa pensar se de fato os discípulos que se encontraram com o Senhor ressuscitado tivessem guardado essa boa notícia, não estaríamos aqui. Mas pelo intuito missionário, Paulo e Barnabé, foram para outros lugares, saíram de Jerusalém, saíram de toda a tradição de Israel, e se dirigiram para outras nações, nações pagãs porque não acreditavam no Deus único e verdadeiro.

            E quando Paulo e Barnabé chegaram junto a esses outros povos considerados pagãos, eis que se apresentou uma situação nova que não podiam decidir sozinhos. A situação era sobre a circuncisão ou a pertença ao povo de Israel pela lei mosaica, era preciso passar pelo povo de Israel para depois se converter ao cristianismo? Uma adesão de fé a Cristo era o que bastava? Por isso Paulo e Barnabé quando voltam da missão para Jerusalém, reúnem os apóstolos. É uma assembleia que acontece com o grupo pequeno dos Apóstolos para tomar uma decisão, e o que ouvimos hoje no trecho dos Atos dos Apóstolos, trata-se do momento em que há as conclusões necessárias depois dessa reunião.

E o texto fala justamente de uma carta que foi dirigida para os pagãos, carta mandada com o todo o teor da assembleia que aconteceu. É o Concílio de Jerusalém, e na história da Igreja é o primeiro Concílio realizado. Outros tantos aconteceram na história da Igreja Católica e hoje nos encontramos sob os moldes do Concílio Vaticano II.

Mas em Jerusalém quando aconteceu essa reunião, eis que os próprios discípulos, os apóstolos do Senhor, decidiram mandar uma carta para os pagãos. Partiram novamente, Paulo e Barnabé, mas para que pudesse ter uma assistência maior, outros acompanharam, Judas chamado Barsabás e Silas, que também eram respeitados entre os irmãos.

O teor da  carta que foi apresentada para os pagãos mostra um caráter de acolhida, de fraternidade e ao mesmo tempo de anúncio de Jesus Cristo “nós os apóstolos e os anciãos saudamos com fraternidade a vocês irmãos que vieram do paganismo, de Antioquia, da Síria e da Silícia, até ficamos sabendo que alguns dos nossos estão causando perturbação entre vocês, mas queremos dizer que eles não foram enviados por nós, e então decidimos de comum acordo escolher alguns representantes para que chegassem até vocês, junto com nossos queridos irmãos Barnabé e Paulo”.

            Há uma fraternidade construída entre os apóstolos, por mais que também haja diferença entre eles. Uma fraternidade entre aqueles que estão em missão, homens que arriscaram as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. “Por isso estamos enviando Judas e Silas que pessoalmente vão transmitir essa notícia”.

Percebam o que acontece no Livro dos Atos dos Apóstolos, esse versículo 28 do capítulo 15 que estamos ouvindo: “decidimos q o Espírito Santo e nós não vos impor nenhum fardo, além das coisas indispensáveis”. É o Espírito Santo que conduz os apóstolos, a decisão não parte de algo somente humano, mas do que o Espírito Santo suscita no coração dos apóstolos. É o mesmo Espírito Santo presente entre os apóstolos, é o mesmo Espírito Santo que dá condições de decisão, mas a decisão maior é dele, a condução do mundo, a condução da nossa realidade terrestre é do Espírito Santo, por isso também somos levados neste mundo pela força do Espírito Santo.

            As recomendações eram para que esses pagãos pudessem se abster de carne sacrificada, do sangue das carnes de animais sufocados e de uniões ilegítimas, inclusive termina assim: “vós fareis bem se evitar essas coisas, saudações”. Em conclusão, não era preciso então a circuncisão e nem a pertença à lei mosaica, mas era preciso professar a fé no Cristo vivo e verdadeiro.

            Voltemos para a nossa reflexão no sentido de sermos protagonistas no nosso tempo e anunciadores dessa boa notícia. Há muitos pagãos que estão próximos de nós, que não acreditam mais em Deus, muito menos em Jesus Cristo. No ambiente de trabalho, onde vocês dia a dia consomem também boa parte da vida, muitos necessitam do testemunho de cristãos verdadeiros, por isso o anúncio do Evangelho é urgente.  A Igreja conta com todos os seus cristãos como luz que deve resplandecer nesse mundo, como aqueles que experimentam na Santa Eucaristia, na missa, o dom da paz. O próprio Jesus diz: eu deixo-vos a paz, a minha paz, eu vos dou, mas não dou como o mundo. A missa é um momento de experimentarmos a paz como fruto do Espírito Santo.

            Daqui a pouco vocês, catequizandos, participarão pela primeira vez na Santa Eucaristia. Deveria ressoar em nossos ouvidos muito bem aquele rito da comunhão, desde a oração do Pai-nosso que não termina naquele momento, mas que continua com a oração do sacerdote que preside dizendo: livrai-nos de todos os males, Ó Pai, dai-nos hoje a vossa paz. 

É um pedido da Igreja para se experimentar o dom da Paz, e o sacerdote geralmente volta o olhar para o alto pedindo ao Senhor que essa paz instaure o coração da assembleia que está celebrando. No momento que antecede a comunhão, em que o próprio padre se volta para o Cristo presente na Santa Eucaristia, realmente é o Senhor presente, diz: Senhor Jesus Cristo, dissestes aos vossos apóstolos eu vos deixo a paz. Toda esta oração está baseada neste momento em que o Senhor, antes de partir, despedindo-se dos seus discípulos deu a certeza, de ser Ele a paz.  Essa paz invade o nosso coração de forma a experimentarmos uma comunhão muito profunda, “a paz do Senhor esteja sempre convosco”, diz o sacerdote a cada missa, para que experimentemos esse dom pleno da paz.

            Portanto, experimentados com o dom da paz, não há perturbação nesse mundo, não há medo, porque o Espírito Santo que dá como fruto o dom da paz é que dará força para nossa missão. Mas, permitam-me ainda concluir com o trecho do Apocalipse de São João, que não pode ficar de lado nessa celebração, pois fala de um momento resplandecente de uma cidade, Jerusalém e, na verdade, caminhamos para uma Jerusalém celeste.

Eis que São João já tem uma visão também do que será no futuro, e nesse mundo há sinais de uma Jerusalém terrestre, porque enquanto caminhamos nesse mundo, como é bom experimentar os sinais de Deus na história, como é bom experimentarmos na liturgia a plenitude do Espírito que habita em nós. Enquanto peregrinos, a liturgia tem todo um sentido verdadeiro, e a cada domingo também somos transformados pela força do Espírito Santo.

            Tudo em vista de que um dia estejamos face-a-face com o Senhor e nessa visão São João diz o seguinte: um anjo me levou em espírito a uma montanha grande e alta. E o que São João viu? Viu a cidade santa, Jerusalém descendo do céu, e essa cidade brilha com a glória de Deus.

Percebamos que a liturgia de hoje pelo Salmo responsorial, disse que todas as nações precisam glorificar e encontrar o nome de Jesus como aquele que salva, e se cada nação, se cada cristão é uma luz neste mundo, é como se a glorificação do Senhor já acontecesse em cada um. Então é uma forma antecipada de experimentarmos aqui na terra uma realidade do céu. Cada um de nós neste mundo estamos experimentando uma realidade do céu, e São João diz que esta glória brilha na condição de uma Jerusalém Celeste. Mas que tal pensarmos na construção que acontece na Jerusalém terrestre, enquanto peregrinos neste mundo.

            Diz São João ainda: o brilho dessa cidade que somos todos nós, era como uma pedra preciosíssima, era como o brilho de Jaspe cristalino. Nunca vi um Jaspe cristalino, mas deve ter muito brilho, e ainda essa cidade estava cercada de uma muralha maciça e alta com 12 portas porque havia 12 anjos. Os anjos estão guardando essa Jerusalém celeste e nas portas estava o nome dos 12 apóstolos, três portas para o oriente, três portas para o norte, três portas para o sul, três portas para o sudeste. Enfim, portas para todos os lados porque está aberta para todas as nações, todos podem entrar nessa cidade, não é só para um grupo privilegiado, mas é para todos.

            A muralha tinha também 12 alicerces, e sobre eles estava escrito o nome dos 12 apóstolos. Providencialmente o nosso Santuário também foi construído com a sustentação de 12 colunas. Se olharmos ao redor, essas 12 colunas onde temos uma cruz em cada uma delas, porque este Santuário é dedicado, é a base de sustentação para que aqui nesse ambiente experimentemos a Jerusalém celeste, por isso tudo que acontece, o brilho que acontece na nossa liturgia, e tudo é preparado em vista de experimentarmos já uma realidade aqui na terra, do que um dia experimentaremos no céu.

É essa realidade que contempla cada templo sagrado, quando bem pensado, de fato deve resplandecer como uma luz a brilhar. Que beleza é nosso vitral numa noite escura da grande cidade de Curitiba que fica a brilhar como uma luz, uma luz que resplandece, mas nós somos essa luz! Como seria bom se também pudéssemos resplandecer, e experimentarmos a glorificação sendo uma luz para outras pessoas!

            Termina o texto de hoje dizendo o seguinte: é a visão de São João, e a visão futura, não vi templo na cidade, pois o seu tempo é o Senhor, é o próprio Cristo, o Deus todo poderoso e o cordeiro se faz templo. Estando diante do Senhor a cidade não precisa nem de sol, nós, peregrinos nesse mundo, como é bom termos um sol resplandecente, a brilhar, mas Cristo resplandece mais do que esse sol. Ele é o sol nascente de todos os dias. Na cidade futura, Jerusalém, a cidade não precisa de sol, nem de lua que ilumina, pois a glória de Deus é a sua luz e a sua lâmpada é o cordeiro. É uma bela visão e o Livro do Apocalipse de São João também pouco a pouco se torna uma realidade na nossa liturgia. Tenho orientado, se queremos realmente aprofundar o mistério que celebramos na Santa Missa, leiamos o Apocalipse de São João, não só no sentido de querermos ver coisas futuras, mas já experimentando nos sinais que permanecem entre nós, o quanto o Senhor também se resplandece entre nós, com sinais, sinais de vida, sinais de luz.

            Que esta santa eucaristia nos estimule, meus irmãos, para que sendo protagonistas do nosso tempo, jamais desistamos de sermos propagadores dessa luz que é Jesus, dessa missão que pouco a pouco abraçamos, e vocês agora catequizandos irão inclusive professar, por meio fé. Irão preparar o seu coração, como nós também, como comunidade viva iremos preparar o nosso coração ainda mais, na profissão de fé que fazemos, porque é a fé que sustenta a nossa vida e nos ajuda a resplandecer neste mundo.

Escrito por: Pe. Maurício