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(Lc 9,18-24)

Certo dia, 18Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?”

19Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”.

20Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”.

21Mas Jesus proibiu-lhes severamente que contassem isso a alguém. 22E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.

23Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. 24Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”.


HOMILIA NO XII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Caríssimos irmãos e irmãs presentes neste Santuário e uma saudação muito fraterna a todos que acompanham, nesse momento, a transmissão da santa missa. Estamos no reiniciar do tempo comum em que contemplamos a vida pública de Jesus. A Igreja, ao longo da história, organizou a liturgia a partir de três ciclos a serem vivenciados durante o ano civil. Chamamos do ciclo da Páscoa, composto pelo tempo da Quaresma e o tempo Pascal, também temos o ciclo do Natal que compõem o tempo do advento e o tempo do natal, e o ciclo do tempo comum que é propriamente o tempo comum.

            Uma primeira parte desse tempo está situada depois do ciclo do Natal, e o restante se retoma depois da conclusão do ciclo da Páscoa. Por isso, desde a semana passada já estamos a celebrar tudo que o Senhor revela durante este ciclo do tempo comum. Tempo que não pode ser compreendido como um tempo qualquer, mas como o tempo principal em que o Senhor se manifesta em sua vida pública e nós, no cotidiano da vida, acolhemos essa mensagem de salvação. Os outros ciclos, tanto da Páscoa quanto do Natal, têm as suas especificidades, e no ciclo que estamos a viver agora, do tempo comum, a vida pública de Cristo resplandece, ou seja os milagres, as curas, a caminhada de Jesus durante os três anos em que se manifestou, publicamente, diante de alguns que puderam testemunhar tantos e tantos sinais.

            E a partir do que os Evangelistas revelam também há uma organização da Igreja. O evangelho de São João geralmente escutamos muito nos ciclos da páscoa, do natal e das grandes solenidades. Esse evangelho foi escrito de uma maneira um tanto diferente dos outros, porque Mateus, Marcos e Lucas escreveram Evangelhos que conhecemos como sinóticos, quer dizer, são Evangelhos parecidos, mesmo cada um tendo a sua particularidade.

E assim, com esse preâmbulo, adentramos agora especificamente no Evangelho segundo São Lucas, que é o evangelho do ano C. Ano que vem retomamos o ano A, e assim sucessivamente a cada três anos, temos à nossa disposição um evangelho sinótico.

            O evangelho de São Lucas é conhecido como o evangelista da misericórdia de Deus. As parábolas da misericórdia e do Pai misericordioso se encontram nesse evangelho. Assim como também outros relatos, por exemplo, dos discípulos de Emaús que só encontramos nesse evangelho, e há uma terceira característica que destaco desse evangelho, por que São Lucas escreveu colocando o próprio Jesus em caminhada.

No itinerário em um caminho até Jerusalém, primeira parte do evangelho, tem elementos importantes dos momentos em que o Senhor se manifestou publicamente. Quando se chega ao capítulo nono do Evangelho de Lucas, é como se chegássemos à parte do evangelho em que pudéssemos abri-lo como uma dobradiça, pois de um lado está a primeira parte e depois do capítulo nono uma segunda parte.

            E nessa dobradiça temos então o capítulo nono, que está muito ligado ao Versículo 51. Esse versículo talvez seja de suma importância para compreender o momento em que Jesus toma a firme decisão de ir para Jerusalém. É claro que Jesus já sabia o propósito da sua missão neste mundo, mas o evangelista faz questão de colocar Jesus a caminho.

Por que estou destacando esse versículo? Porque a nossa vida cotidiana também é assim, estamos em uma caminhada, estamos caminhando rumo à Jerusalém celeste, enquanto peregrinos neste mundo. Chegará o momento em que precisamos tomar uma firme decisão pelo Senhor, assim como Cristo também tomou.

            E para chegar a esse versículo 51, eis que o evangelho de hoje nos apresenta outros versículos. Situemos-nos entre os versículos 18 a 24 e compreendamos um pouco o evangelho hoje narrado, que diz o seguinte: certo dia, Jesus estava rezando no lugar retirado e os discípulos estavam com Ele. É preciso contemplar esta imagem. Imaginemos a grandiosidade de um momento em que Jesus se encontra em comunhão com o Pai, orando. São Lucas é específico nisso, narra vários momentos em que Jesus estava em oração e, antes das grandes decisões, geralmente o evangelista fala de Jesus em uma comunhão com o Pai. O evangelho de hoje começa justamente nesse certo dia, até como se estivesse a dizer, não em um dia qualquer, mas nos vários dias que o Senhor também pode se manifestar a nós, discípulos do Senhor, no tempo atual. O dia específico de uma grande revelação do Senhor é o domingo, dia consagrado a ele, dia do Cristo ressuscitado.

            Por isso o evangelho se concretiza em nós quando pensamos que esse certo dia é o dia de hoje. Dia em que o Senhor está entre nós e cada um dos irmãos que reza conosco. É uma imagem de alguém que busca uma comunhão com o Senhor e se existe algo tão belo a contemplar é quando alguém está em profunda oração. Pois é assim que Jesus estava, no lugar retirado, para nós, a igreja, o Santuário é esse lugar também de retiro. Mas pode ser aqueles momentos em que nos retiramos da nossa cotidianidade para que assim estejamos na presença do Senhor.

Depois desse momento de oração, eis que Jesus faz uma pergunta para aqueles que ali estavam: quem diz o povo que eu sou? Não é qualquer pergunta a ser feita, tinha um objetivo para que pudesse mostrar aos discípulos qual era a sua missão. Interessante perceber o evangelista bem didático, a resposta é assim, percebam: quem diz o povo que eu sou, vem uma resposta então do que o povo diz, depois segue uma resposta do que os discípulos afirmam, em seguida o próprio Jesus fala quem ele é, e finalmente, uma imagem do Pai que revela quem é Jesus.

            Compreendamos melhor esses passos, na primeira resposta que foi dada pelos discípulos, o que diz o povo que eu sou, a resposta veio desta forma: que é João Batista, outros que é Elias, mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou. O que é comum na percepção dessa resposta é que o povo está a dizer que Jesus não é o enviado, não é o messias, até pode ser um desses grandes profetas, mas todos tinham um objetivo: preparar o caminho do Senhor. Então no coração do povo ainda continuava a expectativa pela vinda do Senhor, como muitas vezes acontece em respostas que encontramos no que os outros dizem a respeito de Jesus, que não é uma resposta permeada pela fé, que não é uma resposta de adesão, no sentido verdadeiro de quem é o próprio filho de Deus. Por isso, não é uma resposta condizente, por que não responde e não contém o elemento principal de reconhecer Jesus como salvador. Porque Jesus significa Salvador.

Então a segunda resposta que vem de Pedro é esta: tu és o Cristo de Deus. A resposta de Pedro é uma resposta, quem sabe, em nome dos discípulos, em nome daqueles que estavam em uma comunhão profunda com o Senhor. Por isso também é uma resposta adequada para esse momento, mas o Senhor diz: não contem isso a ninguém! Porque era preciso ainda um longo itinerário, uma longa caminhada do Senhor para que se cumprisse tudo o que estava previsto.

            É assim que depois da resposta de Pedro, Jesus mesmo diz quem ele é afirmando: o Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia. O que Jesus revela é que, sendo Filho do homem, o filho de Deus, não estará naquelas condições que muitos esperam do Messias, do ungido pelo Senhor, mas o Cristo é um servo, o servo sofredor, carrega em si os sofrimentos e as enfermidades de toda a humanidade.

Essa imagem do servo sofredor é do Antigo Testamento, especificamente nos lembramos do profeta Isaías, existem três cânticos do servo sofredor, mas também o profeta Zacarias, que não é assim tão conhecido e viveu em torno de 200 anos antes de Cristo, previa que viria alguém, que seria transpassado e muitos contemplariam o Filho do homem, como Aquele que seria transpassado na dor. Quem sabe não está aqui a revelar o que muitos esperavam de Jesus, e para nós também, revela o que muitas vezes, quem sabe, não esperamos de Cristo.

            A nossa adesão a ele vem delineada por muitas características, especialmente das enfermidades, porque em algum momento da vida enfrentaremos enfermidades. Se não estamos enfrentando agora doenças físicas e espirituais, psicológicas, em algum momento a enfermidade por causa do pecado, estará conosco.

Mas como enfrentaremos? O Cristo já nos ensinou, Ele mesmo morreu por nós e ressuscitou no terceiro dia, então que Jesus diz a todos, é o final do Evangelho, é uma imagem do Pai que se revela, diz o seguinte: se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e me siga. É impressionante a imagem do Pai que é revelado em Jesus, porque ensina que é preciso caminhar rumo à Jerusalém celeste, mas aprendendo a carregar a cruz. São Lucas é o único que diz especificamente cada dia, os outros Evangelistas não usam essa expressão, mas Lucas justamente quer lembrar que todos os dias é preciso tomar a cruz, não como algo que escolhemos.

            A missão que Deus nos dá é parte de uma escolha pessoal, mas ninguém escolhe uma cruz. A cruz pode ser várias situações da vida, enfermidades que carregamos, mas também pode ser alguém, um esposo, uma esposa, aquilo que ajuda para a própria santificação, filhos que, infelizmente, estão propensos a situações do mundo, que se tornam uma cruz para os pais. Mas o que fazer então, é caminhar cada dia, renunciar às próprias vontades, e seguir o Senhor. Por isso, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas quem perde a sua vida por causa de mim, esse a salvará.

            É assim que Jesus revela que com a força do Espírito Santo, é preciso caminhar: e nós “caminhamos na estrada de Jesus”. Hoje vamos repetir essa frase algumas vezes na oração eucarística escolhida para este domingo: “caminhamos na estrada de Jesus”. Quem dera tivéssemos consciência da caminhada com Cristo carregando a nossa Cruz, não alguns dias, não escolhendo, mas carregando todos os dias, todos os momentos em que o Senhor nos proporciona a grande possibilidade de renovação espiritual, por que suportar e carregar a cruz nos ajuda muito a mudar a direção da nossa vida, a renunciar nossas próprias vontades, para assim nos tornarmos discípulos do Senhor.

Escrito por: Pe. Maurício