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Lc 12,13-21

Naquele tempo, 13alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. 14Jesus respondeu: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?”

15E disse-lhes: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.

16E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. 17Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’.

18Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e fazer maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. 19Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’20Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda esta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?’21Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”.


HOMILIA NO XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

HOMILIA NO XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

            Meus caros irmãos e irmãs, a liturgia da palavra deste domingo ajuda a compreender este dom tão precioso que Deus nos deu, a vida. Alicerçada a este dom, a compreensão do quanto precisamos aderir à Jesus Cristo por meio da fé, dom ainda mais precioso que se encontra em nosso coração desde o momento em que fomos batizados.        Pensemos um pouco sobre isto a partir da palavra que proclamada, pautada nas quatro leituras, e estaremos bem unidos a toda a Igreja que hoje reflete esta dimensão. Na liturgia deste 18º domingo do tempo comum, acontece nas quatro leituras proclamadas uma dinâmica tão importante que nos leva a pensar sobre este dom precioso que Deus nos deu, sermos chamados a vida neste mundo.

A partir de cada uma das leituras, este precioso dom recebido também necessita de um aprofundamento para que assim, ao longo de toda a existência que o Senhor nos dá, também tenhamos a presença Dele.

Comecemos pelo salmo responsorial, repetimos algumas vezes o refrão que Deus foi ou é o nosso refúgio, o Senhor é um refúgio para nós, e continua cantando as maravilhas que se encontram na vida que Deus nos deu. Mas, como seria bom pensarmos que para Deus mil anos é como um ontem, qual vigília de uma noite que passou. Ou seja, o tempo cronológico da nossa vida é um tempo precioso, mas fomos feitos para o eterno, para um tempo que é do Senhor, o tempo kairológico, e é para este tempo que caminhamos.

            Assim, diz o texto no salmo: os anos que Deus nos concede passam como o sono da manhã, são iguais a erva verde pelos campos, de manhã floresce vicejante, a tarde é cortada e logo seca, ajuda-nos a compreender a dimensão da vida comum. Ao mesmo tempo nos coloca diante desta situação da vida terrena como uma finitude, fomos gerados em Deus, recebemos este Dom precioso, mas um dia seremos chamados para a vida eterna.

O salmista nos diz: ensinai-nos, Senhor, a contar os nossos dias. Por isto, todos os dias precisam de um ato de agradecimento “dai, Senhor, ao nosso coração uma sabedoria verdadeira, para que saibamos aproveitar deste dom”. Termina o salmo responsorial fazendo um grande pedido: tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho. É impressionante porque o próprio Salmo já nos ajuda a compreender tudo que está por detrás da liturgia, pois o trabalho que Deus nos dá também neste mundo, um trabalho digno, é necessário para nossa subsistência. É necessário para que nos tornemos adultos, é necessário para que possamos transformar a realidade deste mundo.

            É por isso que Deus nos deu a capacidade da inteligência, para trabalharmos com dignidade, tendo aquilo que é necessário para nossa subsistência neste mundo, para que tenhamos um destino final, que é o céu, não a finitude terrena. Neste sentido, falando a respeito do trabalho, agora podemos entrar no livro do Eclesiastes, primeira leitura de hoje. Este livro da sagrada escritura é retratado, muitas vezes, como bastante pessimista. Para compreendermos que a dimensão escrita nos leva a entender as dimensões da nossa vida, não olhemos com pessimismo para o que foi escrito, mas pensemos que é uma realidade do ser humano.

Por isso, Eclesiastes diz logo no início: vaidade das vaidades, vaidade das vaidades, tudo é vaidade. É lógico que o texto não está falando só da vaidade no sentido de uma beleza exterior, mas está a se referir ao modo como o ser humano, tantas vezes, deposita sua total confiança naquilo que se adquire, ou quem sabe, a segurança encontrada só nas condições humanas. O texto continua dizendo, por exemplo, e é bem evidente, como tudo é vaidade. Um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, no final da vida vê-se obrigado deixar tudo em herança, a outro que nada colaborou, usou da vaidade. E o texto é bem incisivo, usa a palavra desgraça no texto bíblico sabemos que, muitas vezes, quando alguém depositou toda sua confiança na aquisição de bens materiais por si mesmo, o que restará para os seus descendentes? Brigas? Ou quem sabe, estes bens que Deus concedeu pelo trabalho servirão como forma de unir aqueles que ficaram? Se servir para o segundo caso, com certeza, são os bens adquiridos, e o trabalho realizado serviu como um sinal de pertença a Deus. Contudo, o que ficará? Eclesiastes continua dizendo que todos os trabalhos e preocupações, do desgaste embaixo do sol, a vida muitas vezes vem com esta forma de sofrimento, de tormento. O que ficará? Uma noite mal dormida, com o coração inquieto diante de tantas preocupações com o futuro?

            É um texto do segundo século antes de Cristo, tão antigo e tão novo. Para nós, homens e mulheres da pós-modernidade, que temos tudo a nosso favor, uma ciência que nos ajuda a viver, mas que nos deixa diante de tantas preocupações. Muitas vezes o sono não vem, com preocupações não só com o amanhã mas com o dia depois de amanhã, com o que acontecerá daqui 30 anos, se terá uma subsistência, ou até mesmo, com os descendentes, com os filhos, com os netos.

É claro, que o trabalho bem realizado, a nossa vida, também precisa de um bom trabalho, mas tornai fecundo, Senhor, o nosso trabalho, para que não nos desgastemos, para que não usemos este valor, que é tão importante, só para aquisição de bens, ou para pensarmos em subsistência a longo prazo, mas usemos deste dom tão precioso para vivermos a nossa vida.

            É nesse sentido que chegamos ao evangelho de hoje. É bem claro quando alguém vem no meio da multidão e diz a Jesus: Mestre!  Vejam, reconhece Jesus como Senhor, é um discípulo do Senhor, só chama de mestre aquele que é discípulo, “disse ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Não compreendeu nada, qual é a missão de Jesus? Qual é a missão daquele que é o filho de Deus? Não consiste em julgar ou dividir os bens.

Por isso, Jesus aproveita a situação e diz: atenção, cuidado, tome cuidado contra todo tipo de ganância, por que mesmo que alguém tenha muitas coisas, palavras de Jesus, a vida de um homem não consiste na abundância de bens. O livro de Eclesiastes está no pessimismo a pensar só no momento em que o homem se aniquila, mas Jesus quer mostrar que além das condições da abundância dos bens materiais, é possível sim, encontrarmos um sentido para aquilo que o Senhor nos concede por meio de um trabalho digno.

            A parábola é bem evidente, fácil de ser entendida, de um homem que já era rico e teve uma grande colheita, então disse: o que vou fazer com essa colheita? Não tenho onde gue. Resolve: ah, já sei o que vou fazer, a colheita foi grande, vou derrubar os celeiros, vou construir maiores, guardar todo meu trigo junto com todos os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, olha o diálogo consigo mesmo, tu tens uma boa reserva para muitos anos, descansa, come, bebe, aproveita. Parece o homem da pós-modernidade, que tem um narcisismo tão exacerbado que pensa só em si mesmo.

Mas o texto vem nos alertar que no diálogo da parábola contada por Jesus; Por que será que este homem depois de um tempo de colheita abundante, não pensou o primeiro em elevar o seu coração para Deus e agradecer? Não aparece no texto, é algo bem nítido, alguém que não é agradecido a Deus pelos dons recebidos, como é que pode viver bem o dom da sua vida!

            Ainda mais, por que esse homem não pensou que já que estou mais rico ainda, posso ajudar outras pessoas, quem sabe posso dividir um pouco, não tudo, mas dar um pouco para alguém que precisa. Isto não passou na cabeça deste homem, como muitas vezes acontece com os seres humanos, pensam que se tudo vai bem, tudo acontece da melhor forma, é só fruto do esforço pessoal. Agora, se não vai bem, daí recorre a Deus, mas porque não deixar que Deus conduza a história, o mundo do trabalho, e ser como aquele homem prudente que sabe ser agradecido.

Ainda mais, não precisa dar tudo, basta saber repartir, por isso, Jesus diz para aquele homem que não soube fazer um ato de agradecimento, nem soube repartir,: louco. De fato, é uma grande loucura pensar em acumular bens para si mesmo. E o que acontece naquela mesma noite? Vão pedir de volta à vida deste homem, e para quem vai ficar o que acumulaste? Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus.

            De modo algum há uma condenação aos ricos, mas, pelo contrário, àqueles que estão apegadas aos bens materiais e não são agradecidos a Deus, e não sabem repartir com aqueles que precisam. Não sabem ser comunidade, porque no nosso tempo é importante ser comunidade, por meio de um dízimo, de uma oferta que se faz, no ato que, muitas vezes, é pequeno, mas carregado de um gesto tão profundo.

Permitam-me uma catequese sobre aquele momento que antecede a liturgia eucarística, com o canto do ofertório, ofertas espontâneas que damos, na forma do dinheiro ofertado, mas também para pensarmos no dom da vida. Enquanto se faz a oferta material, pouco que seja, às vezes uma pequena moeda, já mostra a generosidade, e como é bom educarmos os filhos para isso, para não acumular só para si, pensar em repartir. Mas enquanto tudo isso acontece, o padre está diante do altar preparando a mesa eucarística com o pão e com o vinho, e chega o momento em que se derrama um pouco de vinho e uma gota de água se junta àquele vinho. Sabe o que é aquela gota? É a nossa vida, oferta principal. Ofertas espontâneas são feitas, mas a oferta principal é o dom da nossa vida que se mistura no vinho e que depois se transformará no sangue do Senhor, alimento para todos nós.

            ‘Pelo mistério desta água e deste vinho, possamos participar da divindade do vosso filho que se dignou a assumir a nossa humanidade’”. São estas palavras que o padre pronuncia, não são palavras secretas. Algumas vezes, nas missas durante a semana, faço em voz alta, porque muitos não sabem, mas enquanto se prepara a mesa eucarística, também há orações que o sacerdote está dirigindo, e neste momento é um ato de uma expressão da vida da comunidade que se mistura àquele vinho. E tudo se torna alimento para nós. Por isso, atenção, quando vocês perceberem na missa essa preparação, não é um ato qualquer mas é um ato de fé, é a tua vida, é a minha vida que está sendo colocada no altar enquanto fazemos ofertas espontâneas.

            Enfim, concluamos sem deixar de lado a carta aos Colossenses, a segunda leitura de hoje, diz o texto: se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos para alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Quando ressuscitamos com Cristo? Desde o momento da nossa fé, quando foi dado o batismo, fomos sepultados em Cristo, ressuscitados em Cristo.

Portanto, é outro dom aliado ao dom da vida, o dom da fé, que nos ajuda a nos esforçarmos sim, para as coisas do alto, não só para as coisas da terra: aspirai as coisas celestes e não as coisas terrestres. E não dá para deixar de pensar no que São Paulo está nos dizendo, do nosso grande esforço, da nossa aspiração para as coisas que serão eternas. Se Deus nos concede bens materiais é tudo em vista da eternidade, porque morremos com Cristo. São Paulo diz: vós morrestes, sim, morremos pela morte e ressurreição do Senhor, e a nossa vida, diz o texto: e a vossa vida está escondida com Cristo e em Deus. Pelo batismo estamos em Deus, mas basta nos deixar guiar por este dom. Quando Cristo, vossa vida, sim, agora mudamos até a dimensão por que a nossa vida em transformação pelo dom da fé se torna uma vida em Cristo Jesus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória.

Que bom termos este destino final, a glória de Deus, o nosso destino final não é o aniquilamento, não é um fim, mas tem algo como destino certo. Se já temos o dom da fé, quando fecharmos os olhos para este mundo, abriremos para o eterno. Portanto, não deixemos que a nossa vida seja consumida pelas condições terrenas, não somente tenhamos esses valores que são importantes, mas nos deixamos guiar por valores eternos. Usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam, é um texto da liturgia do domingo passado. Que possamos usar de tal modo os bens que passam, e possamos realmente abraçar os que não passam. Que Deus nos ajude e nos permita uma vida sempre guiada para ele, para que um dia sejamos salvos em Cristo Jesus.

 

Escrito por: Pe. Maurício