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Lc 14,25-33

25Muito povo acompanhava Jesus. Voltando-se, disse-lhes:

26Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.

27E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo.

28Quem de vós, querendo fazer uma construção, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários, a fim de ver se tem com que acabá-la?

29Para que, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele,

30dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar.

31Ou qual é o rei que, estando para guerrear com outro rei, não se senta primeiro para considerar se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil?

32De outra maneira, quando o outro ainda está longe, envia-lhe embaixadores para tratar da paz.

33Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo.


HOMILIA NO XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

HOMILIA NO XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

            Caríssimos irmãos e irmãs presentes neste Santuário e aqueles que acompanham a transmissão desta santa missa no início de setembro, mês da Bíblia, vigésimo terceiro domingo do tempo comum. Como é bom nos refugiarmos no Senhor e encontrarmos na palavra de Deus o principal sentido para nossa vida e para nossa história.           Como é bom repetirmos como o salmista: “Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós”.

De fato, no decorrer da nossa vida, da nossa trajetória, das inquietações do tempo presente, o melhor refúgio se encontra em Deus. E, eis que o tema que somos chamados a aprofundar neste domingo é o do refúgio seguro e o único que encontramos no Senhor.

Nesse sentido, abramos o nosso coração para acolher o santo evangelho como principal leitura, e o momento em que Jesus, diante de grandes multidões, faz questão de se voltar para aquelas pessoas que já o seguiam, deixando bem claro como deve ser a caminhada do discipulado.

Jesus se volta para aqueles que estavam caminhando com ele, ou caminhando atrás dele como discípulos dizendo: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo”.

            É evidente que em muitas ocasiões Jesus retrata a comunhão fraterna que existe entre nós, e a importância que existe do cuidado para com aqueles que nos foram confiados. É evidente ainda que este cuidado se dá no modo como cada um precisa viver inteiramente a sua vida, mas sobretudo o que Jesus quer lembrar àquela multidão e a nós, nesse tempo presente, é  que para ser discípulo de Jesus não podemos colocar em primeiro lugar nem os familiares, muito menos os bens materiais, e até a nossa própria vida, porque tudo isso vem como um acréscimo a tudo aquilo que escolhemos.      Em primeiro lugar sempre deveríamos e devemos escolher a Deus, é Ele que guia os nossos passos, nos ajuda na execução dos projetos humanos, aliados a tudo aquilo que Deus revela.

Ainda mais, Jesus aprofunda essa caminhada em outra frase: “quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. O próprio Jesus assim carregou a cruz pela humanidade toda, e nós, como discípulos, também temos uma cruz a carregar. Há uma diversidade na forma como enfrentamos e carregamos a cruz, talvez seja uma enfermidade que enfrentamos, talvez seja a família que carregamos como uma cruz, ainda pode ser a missão que o Senhor nos dá, o trabalho que também pode ser uma cruz. O importante se encontra no momento em que tomamos essa Cruz a cada dia, caminhamos tendo à frente Jesus, e sobretudo, nos tornando discípulos Dele.

            E para ajudar a compreender o que é esta caminhada de verdadeiros discípulos de Jesus, Ele mesmo conta duas parábolas. Elas estão em uma comunhão muito profunda, no entendimento de que é preciso, quem sabe, para fazer um projeto, um planejamento. Diz o Senhor: Ninguém constrói uma torre por construir, ou simplesmente não sabendo se vai terminá-la, ninguém vai para uma guerra sem a possibilidade de ganhá-la, e se somos discípulos do Senhor, estamos também neste mundo para sermos discípulos Dele. Como seria bom se tivéssemos um bom projeto, um projeto humano porque temos também a força humana, mas esse projeto tendo um alicerce seguro que é o próprio Deus, porque é Ele que nos inspira a vivermos a nossa vida.

É Deus que, em primeiro lugar, está como fundamento de toda a nossa trajetória, por isso só os projetos aliados às condições humanas permanecem neste mundo. Mas projetos que querem culminar para a eternidade terão Deus como o protagonista de tudo. É Ele que nos encaminha, que nos faz compreender o quanto a sua vontade acontece na nossa vida e na nossa história.

            É assim que o livro da Sabedoria que ouvimos hoje nos convida à reflexão na mesma temática, com duas perguntas logo no início. Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus, o que pode imaginar o desígnio do Senhor? Por mais que busquemos a sabedoria e temos a inteligência, racionalidade para buscá-la, mas a grande sabedoria vem de Deus, e quando buscamos essa sabedoria reconhecemos que tudo é desígnio de Deus.

Este livro da Sabedoria foi atribuído a Salomão, justamente porque foi um grande rei e sábio na sua época. Atribuído a ele porque o autor, mesmo tendo condições de ter presente tantos ensinamentos e aprendizados sobre o mundo, reconhece que tudo que nos cerca, as estrelas, o céu, o mar e a terra, estão sobre a ótica e desígnio de Deus, porque é Ele o autor de tudo.

            Meus irmãos e minhas irmãs, compreendamos que todos os nossos projetos nessa vida precisam ter um alicerce seguro, que é o próprio Deus, precisam de um fundamento e de uma caminhada de discípulos verdadeiros.

Percebamos ainda, Jesus não estava preocupado com aquela multidão que o seguia, estava preocupado com a qualidade dos seus discípulos. Por isso, logo no início do cristianismo, eram poucos os cristãos, mas aqueles que aderiam com fé a Jesus, iam até as últimas consequências. De nada adianta levar o nome de cristão, de nada adianta ser católico só pelo batismo, o que vale muito é o discipulado, é a condição de um discípulo que caminha com o Senhor, e caminha em todas as ocasiões, mesmo nas tribulações, mesmo nos momentos em que somos provados.

            Olha a provação que viveu São Paulo, por exemplo, em algumas ocasiões foi até levado a prisão, e depois morreu como consequência de seguir a Jesus Cristo. Se seguimos a Cristo e somos discípulos Dele, não precisamos ter medo. Às vezes qualquer doença que vem já ficamos com receio, achamos que Deus está nos abandonando, tirando o que temos, mas vejam São Paulo, estava aprisionado por causa de Jesus.

E faço questão de ler agora como referência, a carta que São Paulo escreve ao seu amigo Filêmon, que era também um discípulo de Cristo. Diz: eu, Paulo, velho como estou, e agora também prisioneiro de Cristo Jesus, prisioneiro por causa de Jesus, quero fazer um pedido em favor do meu filho, que eu fiz nascer para Cristo na prisão, Onésimo. Percebam, é uma carta, na verdade é um bilhete de Paulo para Filêmon, é o texto mais breve que existe na sagrada escritura, e nesse bilhete faz um pedido: quero fazer um pedido, não em favor de mim, era um Apóstolo, podia estar fazendo um pedido em favor de si, mas faz um pedido em favor daquele que nasceu para Cristo na prisão, para Onésimo, que era escravo de Filêmon. Infelizmente, nessa época também existia a dura escravidão de seres humanos, que estavam à mercê de seus senhores.

Filemon, era o senhor de Onésimo, que fugiu e foi encontrado. E para onde vai o escravo que fugiu? Vai para a prisão, mas feliz prisão desse homem, de Onésimo, que foi parar ao lado de São Paulo. São Paulo anunciou na prisão a Onésimo, o Cristo Jesus, e ele encontrou então o sentido verdadeiro para vida.

E é por isso que São Paulo escreve um bilhete, porque estava para sair da prisão o escravo Onésimo, diz: eu estou mandando de volta para ti, é como se fosse o meu próprio coração. Olha quanto afeto existe nesse bilhete, “é como se fosse o meu próprio coração”, porque eles eram amigos também, Paulo e Filêmon. Agora gostaria de tê-lo comigo, como eu gostaria, imaginem continuar na presença de Onésimo, a fim de que fosse teu representante para que Ele pudesse cuidar de mim nessa prisão, eu devo essa prisão ao evangelho. Gostaria que ficasse aqui, quem sabe cuidando de mim, mas São Paulo não se aproveita da situação de apóstolo, pelo contrário, diz o seguinte: eu não quis fazer nada sem o teu parecer, Filêmon, para que a tua vontade não seja forçada, mas seja espontânea. Como exigir generosidade do outro? A generosidade é espontânea.

Então, por isso, se Onésimo foi retirado por algum tempo, talvez seja para que o tenha para sempre, já não como escravo, mas muito mais do que isso, como um irmão querido. Agora não na escravidão, mas na liberdade encontrada em Cristo, um irmão querido, muitíssimo querido para mim, quanto mais ele for para ti, tanto como pessoa humana, quanto como irmão do Senhor.

Na prisão, São Paulo ensinando tanto a seu amigo, e a prisão poderia ser como várias vezes muitos encaram, como o fim de tudo, mas eis que São Paulo, como tantos outros cristãos, aproveitaram a ocasião para anunciar Jesus Cristo. E fazendo essa recomendação ao seu amigo, ajuda para que Onésimo seja recebido não como escravo, porque Filêmon não poderia dar uma carta de alforria, teria uma consequência muito grande diante do império romano, mas poderia receber o escravo como irmão. E essa é uma liberdade muito verdadeira, liberdade em Cristo.

Assim termina a carta: “se estás sem comunhão de fé comigo, meu amigo Filêmon, recebe-o como se fosse a mim mesmo”. Quando nos tornamos discípulos do Senhor, anunciamos Jesus em todas as situações da vida, mesmo em meio a perdas humanas e materiais e até prisões, porque não fomos feitos para sermos eternos neste mundo.

Por isso, nas perdas da nossa saúde física, ou de um ente querido em tudo dai graças ao Senhor, em tudo procurem refúgio no Senhor, em tudo sejam discípulos verdadeiros do Senhor, não abandonem o caminho do discipulado. Tenho certeza de que o Senhor proverá também uma vida cada vez mais santa neste mundo, e uma caminhada cada vez mais segundo os planos de Deus. Eis o sentido da nossa liturgia dominical, eis o sentido de sermos verdadeiros discípulos do Senhor.

Escrito por: Pe. Maurício